Há fortes razões para investir na transição energética e na descarbonização
- REDAÇÃO H2RADAR
- 2 de abr.
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Faz-se urgente comunicar adequadamente e engajar a sociedade num amplo movimento que resulte na aceitação pública do fato de que teremos que arcar com os custos da transição energética, se não quisermos enfrentar os custos socioambientais e geopolíticos de não fazer nada a tempo ou de fazer muito pouco. Esse debate tem ficado encapsulado nos meios acadêmicos ou nas bolhas de internet onde muito se fala, pouco se ouve e quase ninguém se comunica com efetividade.
Primeiramente, sem energia acessível e abundante a humanidade não se desenvolve. Teremos que aumentar e não reduzir a produção de energia, porque ainda há um enorme contingente humano que sequer dispõe de energia suficiente para satisfazer as mínimas condições de uma vida digna (IEA,2022). Partindo dessa premissa, ou buscamos novas formas de gerar e consumir energia, ou será melhor sentar e aguardar um futuro nada alvissareiro, de acordo com as previsões da ciência.
O planeta reflete a ação do homem
As mudanças climáticas e seus efeitos são uma realidade incontestável. Enchentes, secas, queimadas, ondas de calor e frio, crise migratória, escassez de alimentos, enfim, desastres cada vez mais frequentes são, sem dúvida, desequilíbrios resultantes do excesso de gases do efeito estufa que liberamos na atmosfera e do lixo por nós despejados nos rios e oceanos (IPCC 2021).
Nosso Planeta levou bilhões de anos absorvendo em suas entranhas e no fundo dos mares gases e outras substâncias tóxicas durante o resfriamento. E nesse processo constituiu a atmosfera, essa fina camada de gases e partículas que milagrosamente nos protege das intempéries siderais, dando condições para o florescimento da vida como a conhecemos.
Nos últimos 11.000 anos (mais ou menos), no Holoceno, desenvolvemos o que hoje chamamos de sociedade humana. E no caminho, descobrimos formas de obter e transformar minérios e fontes de energia, explorando os recursos da Natureza.
Ocorre que há mais ou menos 200 anos iniciamos um acelerado processo de produção e consumo de energia que nos proporcionou níveis de prosperidade e desenvolvimento tecnológico e econômico de causar espanto a qualquer habitante de outro planeta que aqui chegasse. Não abordaremos aqui a questão da esteira de desigualdade do processo.

Há pouco nos demos conta de que esse padrão de produção e consumo desenfreado nos colocou em rota de colisão com a capacidade do planeta de processar os nossos rejeitos, ou sejam os gases do efeito estufa que liberamos e o lixo que despejamos.
Enfim, demo-nos conta de que o planeta não se recompõe na mesma velocidade com que geramos gases e resíduos.
A ciência nos diz que a solução seria alterar o nosso jeito de produzir e consumir energia. Os padrões de produção e consumo de energia são os fatores-chave e modifica-los é fundamental para nossa sobrevivência (IEA 2022).
Passar a produzir e consumir energia com baixo impacto ambiental; buscar formas mais eficientes de consumo; redistribuir geograficamente e reduzir o consumo de energia per capita. Pois é, isso vai demandar muita cooperação internacional, além de tecnologia e investimento.
Parece que há um grande consenso sobre o diagnóstico
Agora, vai convencer quem produz e quem consome energia, produtos e serviços, de que deveremos fazer tais esforços, leia-se investir mais, redistribuir o consumo, pagar mais caro por energia e produtos, reduzir margens de retorno, aumentar riscos financeiros, colaborar para a redução das desigualdades sociais... e por aí vai. Tudo isso em um ambiente polarizado, onde o nível de confiança nas lideranças anda meio abalado, onde há incerteza quanto aos efeitos geopolíticos dessas mudanças.
Daí que não é difícil compreender a complexidade do momento que estamos vivendo. Do peso das decisões e das ações que a história está depositando sobre os ombros da nossa geração.
Relatórios de entidades de grande reputação internacional como IEA, IPCC, IRENA, DOE, WEC, IPHE, IMO, etc., indicam que as decisões que tomarmos na presente década ditarão o sucesso ou falha do processo de transição para uma economia de baixo carbono.

Cabe às lideranças de governos, academia, investidores e setor privado em geral, comunicar à sociedade, de forma clara, as exigências impostas pela crise climática e as soluções disponíveis para a descarbonização, bem como engajar a todos nós nesse processo, ajudando na justa repartição de ônus e bônus, tanto quanto possível.
Cabe sobretudo a cada um de nós buscarmos informações confiáveis e nos inteirarmos dessas questões que são cruciais para nossa sobrevivência e das futuras gerações. E tomar medidas no dia a dia, no sentido de reduzir nossa própria pegada de carbono. Para assegurar o futuro da Humanidade. Porque o Planeta já estava aqui muito antes de nós e aqui permanecerá sem nós, caso decidamos (por ação ou paralisia) que não vale o esforço.
Fica porém a sensação de naturalidade que temos visto, em face dos impactos dos eventos climáticos extremos. Parece que a maior exposição midiática dos prejuízos humanos e materiais tem tornado as pessoas menos sensíveis à relevância do problema e à necessidade de discussão mais qualificada sobre as soluções e sua implementação, além da urgência de influenciar tomadores de decisão em favor de políticas públicas mais assertivas no endereçamento dessas dificuldades.
O relógio não está a nosso favor.
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Sobre o autor do comentário:
Carlos Peixoto é cofundador e Diretor Executivo da H2helium Projetos de Energia. É voluntário como Diretor de Comunicação da Associação Brasileira do Hidrogênio - ABH2 e membro do Comitê Executivo-RJ da Câmara Britânica de Comércio e Indústria para o Brasil - Britcham, Conselho Empresarial de Energia da Associação Comercial do Rio de Janeiro - ACRJ e na Associação CCS Brasil de Captura e Armazenamento de Carbono.